Prevalência da esquistossomose mielorradicular em áreas endêmicas na Bahia e estudo da resposta imunológica na doença - Dissertação de Mestrado 2010
Dentre as doenças parasitárias, a esquistossomose assume o segundo lugar em termos de importância sócio-econômica e de saúde pública em áreas tropicais e subtropicais. Acomete cerca de 200 milhões de pessoas e estima-se que cerca de 700 milhões de indivíduos vivem em áreas de risco de infecção em todo mundo. Cerca de cinco a 10% dos indivíduos infectados pelo S. mansoni evoluem para a forma grave hepato-esplênica da doença, caracterizada por fibrose hepática decorrente da reação inflamatória aos antígenos do ovo e hipertensão portal que podem complicar com hemorragias digestivas e morte. Alem do acometimento hepato-esplênico, outras manifestações graves podem ocorrer na esquistossomose mansônica, a exemplo da hipertensão pulmonar e a mieloradiculopatia. A mieloradiculopatia esquistossomótica (MRE) é uma das formas ectópicas mais graves e incapacitantes da infecção pelo S. mansoni no Brasil e sua prevalência em regiões endêmicas tem sido subestimada. As manifestações clínicas dependem da interação entre a resposta imune do hospedeiro e os antígenos do parasito no sistema nervoso. O papel das citocinas na indução da formação do granuloma na mielorradiculopatia esquistossomótica ainda não está completamente elucidado. O objetivo deste estudo é estimar a prevalência de MRE em duas áreas endêmicas no interior da Bahia e avaliar a resposta imune em pacientes com MRE atendidos no Hospital Universitário Prof. Edgar Santos no período de Março de 2009 a Agosto de 2010. Foi observado que a prevalência da MRE foi de 0,31 e 0,45% no Conde e Água Preta, respectivamente. Os níveis de IgE e de IgG4 específicos para SEA e SWAP, como esperado, foram mais elevados no grupo de pacientes com MRE do que nos grupos controles, constituídos por pacientes com manifestações neurológicas associadas ao HTLV-1 (HTL) e indivíduos que submeteram-se a punção liquórica por motivos diversos e foram negativos para MRE e HTLV-1 (CON). Citocinas do padrão Th1, Th2, Th17 e e RANTES foram dosadas no líquor eTregulatória, além das quimiocinas MIP-1 soro dos três grupos do estudo. Observou-se que os níveis de IL-13 e MIP-1α foram significativamente maiores no LCR e no soro de pacientes com MRE comparados com os pacientes HTL. Os níveis de IL-17 e de RANTES foram maiores no LCR dos pacientes MRE do que naqueles do HTL. Por outro lado, os níveis de IL-10 no soro e no LCR não diferiram 6 significativamente entre os grupos. A avaliação das razões e correlações entre os níveis das diferentes citocinas e quimiocinas mostrou um predomínio nos níveis de IL-5 e IL-13 sobre INF-γ, enquanto IL-13, MIP-1α e RANTES predominaram sobre IL-10 no líquor dos pacientes com MRE. Houve também uma correlação negativa entre IL-17 e IL-10 no LCR destes pacientes. Esses dados sugerem que as citocinas e quimiocinas do padrão Th2 e Th17, não sendo moduladas pela resposta do tipo Th1 e Tregulatória, devem constituir importantes fatores na imunopatogênese da MRE.