“DISTÚRBIOS OROMIOFUNCIONAIS EM CRIANÇAS COM MICROCEFALIA POR INFEÇÃO DO ZIKA VÍRUS”
Introdução Este estudo traz como tema central a avaliação e caracterização do desenvolvimento oromiofuncional das crianças com suspeita de síndrome congênita associada à infecção pelo zika vírus. Crianças com microcefalia apresentam um risco elevado de distúrbios oromiofuncionais, que podem estar associados a eventos clínicos como pneumonia aspirativa, interrupção no desenvolvimento neuropsicomotor por desnutrição e necessidade de uso de nutrição enteral artificial. Objetivo: Avaliar a prevalência de distúrbios oromiofuncionais e suas complicações - internações por eventos respiratórios e necessidade de nutrição enteral - em crianças com microcefalia associada à infecção pelo zika vírus. Método: Estudo de coorte que avaliou bebês nascidos num hospital público de Salvador/BA. Foram incluídos bebês nascidos no período de 1º de março de 2015 a 27 de fevereiro de 2017, com perímetro cefálico inferior a -2 desvios-padrão Intergrowth. A avaliação oromiofuncional foi realizada através de manipulação oral, observando quanto ao tônus, mobilidade e função da língua, lábios, bucinadores, mastigação e deglutição. Também foram coletados dados sobre os os eventos respiratórios, necessidade de nutrição enteral, incluindo internações ou uso ambulatorial de antibiótico durante o período de seguimento. Resultados: No total foram avaliadas 66 crianças com idade média de 9,4 (+/-6,4) meses na primeira avaliação e encontradas alterações significativas em língua 50 (75,8%), lábios 37 (56,1%), bucinadores 42 (63,6%). História de disfagia foi relatada pela mãe em 30 (45,5%) crianças, mas foi detectada em 46 (69,7%) no exame objetivo. A média de idade na ultima avaliação foi de 16,1 (+/-7,8) meses, quando 9 (10,6%) crianças tiveram indicação de nutrição enteral, 23 (34,8%) fizeram uso de antibióticos por infecção respiratória, 20 (30,3%) foram internados por infecção respiratória. O desfecho combinado (infecção respiratória ou indicação de nutrição enteral) ocorreu em 24 (36,4%) casos. Na análise multivariada, foram preditivos do desfecho combinado o perímetro cefálico ao nascimento (RR=0,80 para cada aumento de 1cm; 95% CI=0,66-0,97, p=0,023) e a disfagia por exame objetivo (RR=19,4 IC 95%=1,6-238,0, p=0,020). Conclusão: A disfunção oromiofuncional é frequente em crianças com a síndrome congênita do zika vírus. O risco para ITR ou necessidade de nutrição enteral foi maior em crianças com microcefalia mais grave ou que apresentaram precocemente disfagia.