Uso de biomarcadores para diagnóstico e predição de tuberculose ativa
Introdução: Apesar de prevenível e curável, a Tuberculose (TB) é um problema de saúde pública, com cerca de 10.8 milhões de novos casos e 1,25 milhão de mortes somente em 2023 (15.5/100,000 habitantes). É estimado que 1/4 da população esteja infectada com TB e cerca de 5 a 15% destes evoluam para doença em algum momento da vida. A Organização Mundial da Saúde (OMS) busca reduzir os casos em 80% até 2030, mas enfrenta desafios, incluindo limitações em testes diagnósticos e de predição para a progressão da infecção para a TB ativa. Objetivos: Identificar citocinas nos sobrenadantes do QuantiFERON que possam predizer a progressão de infecção para TB ativa em contatos de pacientes com TB pulmonar, em coortes do Brasil e da Índia. Métodos: Estudo de caso-controle conduzido com dados da coorte prospectiva RePORT-Brazil, que seguiu 1930 contatos próximos de pacientes com TB por 24 meses, entre 2015 e 2021. 20 contatos IGRA positivos que progrediram para TB ativa foram pareados por sexo, idade e tempo de exposição à TB com 40 contatos IGRA positivos que não progrediram para doença. Medimos as citocinas nos sobrenadantes do QuantiFERON e utilizamos análises descritivas e de random forest para identificação de biomarcadores capazes de predizer progressão para doença. Em seguida, avaliamos esses biomarcadores em uma coorte indiana de contactantes com 8 casos de progressão e 12 controles. Resultados: Na coorte brasileira identificamos IL-8, IL-10 e CCL3 como uma assinatura preditiva importante. A análise da curva ROC desta combinação apresentou AUC de 0,75 (IC 95%: 0,61-0,90), com sensibilidade de 80% (IC 95%: 0,62-0,88) e especificidade de 85% (IC 95%: 0,69-1,00), p=0,001. Na coorte indiana, o mesmo modelo apresentou AUC de 0,804 (IC 95%: 0,67-0,94), sensibilidade de 79% (IC 95%: 0,57-1,00) e especificidade de 85% (IC 95%: 0,69-1,00), p=0,01. Conclusão: Este estudo identificou uma nova assinatura que pode servir como ferramenta para prever a progressão da infecção por TB em contatos próximos. Nossos achados atendem aos critérios da OMS para ferramentas preditivas de TB.