Fatores preditivos de quedas em uma população de pacientes após acidente vascular cerebral residentes na comunidade - Tese de Doutorado 2012
Introdução: A persistência da incapacidade residual na função física, principalmente relacionada com a mobilidade, é uma das razões para a grande deficiência encontrada na população com acidente vascular cerebral (AVC), interferindo na realização de tarefas e na adaptação ambiental. Além disso, está associada à ocorrência de queda, que é uma das complicações mais frequentes após o AVC. Estudos longitudinais com sobreviventes de AVC, em diferentes condições clínicas e demográficas, possibilitarão o crescente conhecimento dos fatores modificáveis e/ou tratáveis relacionados ao risco ou à ocorrência de quedas, e favorecerá a instalação de medidas preventivas fundamentais à manutenção da capacidade funcional nessa população. No Brasil, não há estudos específicos voltados para a identificação da ocorrência e dos fatores relacionados a quedas na população com AVC. Objetivos: Estimar a incidência e os fatores de risco relacionados à ocorrência de quedas e sua associação com a capacidade funcional e a qualidade de vida em pacientes com AVC residentes na comunidade. Casuística e Métodos: Coorte de pacientes após AVC apresentando marcha independente e assistidos em um Ambulatório de Doenças Cerebrovasculares de uma instituição de ensino na cidade de Salvador-Ba. Foram coletados dados sociodemográficos, clínicos e as seguintes escalas: Índice de Barthel Modificado, Timed Up & Go Test (TUG), EuroQol e National Institutes of Health Stroke Scale (NIHSS). Para ajustar para potenciais confundidores dos preditores de queda, após análise univariada (teste log rank), variáveis com possível associação (P< 0.1) e outras variáveis preditoras de queda na literatura consultada, foram incluídas em um modelo multivariado de regressão de Cox. Os resultados foram expressos em hazard ratios e intervalos de confiança de 95%. A curva Receiver Operating Characteristic (ROC) foi usada para identificar o ponto de corte ideal para o tempo do TUG. As curvas de sobrevida, tendo o ponto de corte do TUG definindo os grupos de comparação e queda como variável dependente foram estimadas pelo método de Kaplan-Meier. Resultados: Foram recrutados 150 pacientes entre março de 2009 e setembro de 2010, média de idade 56 + / - 13 anos, 53% mulheres, NIHSS mediano de 2 (intervalo 0 a 11). A mediana de seguimento foi 21 + / - 6 meses, sendo perdidos 16 (11%) pacientes durante o seguimento. Quedas ocorreram em 43% dos pacientes, com uma mediana de 13 meses de seguimento (intervalo de 2-29 meses). O ponto de corte ideal do TUG como preditor de quedas foi >15 segundos, com 66,7% de acurácia mensurada pela área abaixo da curva ROC. Na análise multivariada incluindo gênero, infarto de circulação posterior, uso de vasodilatadores, quedas prévias e Índice de Barthel; apenas o TUG > 15s permaneceu como um preditor significante de quedas (hazard ratio=2,81; IC 95% =1,19 a 6,66; P=0,019). Conclusões: Quedas ocorrem em um número elevado de pacientes após AVC. O TUG se constitui como principal fator preditivo de quedas e indicador importante no monitoramento do risco de quedas em indivíduos após AVC residentes na comunidade.