SEXUALIDADE DA PESSOA COM CEGUEIRA: UMA QUESTÃO DE INCLUSÃO SOCIAL - Tese de Doutorado 2013
Introdução Ao longo da história a relação entre pessoa cega e sociedade tem sido marcada por atitudes quase sempre de exclusão e discriminação, inclusive em relação à expressão da sexualidade. Este estudo teve como pergunta principal: Como as pessoas com cegueira congênita vivenciam a sua sexualidade? Objetivos: Principal - Compreender como as pessoas com cegueira vivenciam sua sexualidade. Secundários: 1. Apreender como as pessoas com cegueira percebem e expressam a sua sexualidade; 2. Analisar como as pessoas com cegueira sentem a reação das pessoas não cegas em relação a sua sexualidade; 3. Discutir o entendimento das pessoas com cegueira sobre o direito à sexualidade. Metodologia: Estudo de natureza exploratório-descritivo, com abordagem qualitativa. Os dados foram coletados através de entrevista semi estruturada e sessões de grupo focal. Participaram da pesquisa 11 pessoas com cegueira congênita sendo cinco mulheres e seis homens, maiores de 18 anos e menores de 65 anos. Os dados foram submetidos à técnica de análise de conteúdo, emergindo assim três categorias: Categoria 1: Sexualidade da pessoa cega: da percepção à expressão; Categoria 2: A sociedade e a sexualidade da pessoa cega: preconceito, curiosidade, indiferença ou falta de conhecimento?; Categoria 3: Direitos sexuais, políticas públicas e educação sexual no discurso de pessoas cegas. Resultados: As pessoas com cegueira percebem a sexualidade como importante, porque envolve doação, intimidade, afirmação de ser homem ou mulher, podendo propiciar situações positivas em suas vidas. Para expressá-la utilizam a voz, seguida do toque, do cheiro entre outros. Foram apontados obstáculos como o preconceito e a falta de informação sobre sexualidade para as pessoas com cegueira. As pessoas com cegueira percebem que a sociedade as consideram assexuadas, destituídas de desejos sexuais e incapazes de gerir a própria vida. Ressaltaram que a falta de conhecimento sobre cegueira leva a sociedade a ver a sexualidade das pessoas cegas com curiosidade, indiscrição, desconfiança ou simplesmente invisível. Demonstraram sentimento de insatisfação, com pouco respeito da sociedade ao direito à sexualidade; consciência e necessidade de buscar seus direitos; políticas públicas escassas para sexualidade dos cegos; falta de educação sexual adequada às suas necessidades. Considerações finais: O estudo revela que a invisibilidade da sexualidade das pessoas com cegueira, pela sociedade, pode torná-las invisíveis aos serviços e políticas públicas de saúde e prevenção da DST/HIV/AIDS, potencializado assim a vulnerabilidade dessas pessoas. Desta forma, a Bioética pode proporcionar reflexões no sentido de resgatar a dignidade e os direitos fundamentais dessas pessoas, apoiada nos pressupostos da autonomia, do cuidado, da tolerância, do respeito e da alteridade, sem negar a sua importância enquanto sujeitos de direito.