Avaliação de biomarcadores inflamatórios na cardiomiopatia chagásica

Português, Brasil

Introdução: A doença de Chagas (DC) está associada a um maior risco de acidente vascular cerebral (AVC) por meio da cardiopatia crônica, mas evidências crescentes sugerem que processos inflamatórios sistêmicos também contribuem para eventos cerebrovasculares e comprometimento cognitivo, mesmo quando a lesão miocárdica é discreta. A inflamação crônica desempenha papel central tanto na patogênese do AVC isquêmico agudo quanto na demência, levantando a hipótese de que marcadores pró-inflamatórios estariam elevados em pacientes com DC comparados a outras etiologias de insuficiência cardíaca (IC). Objetivo: Determinar se os níveis séricos de cinco biomarcadores pró-inflamatórios — interleucina-6 (IL-6), metaloproteinase-9 (MMP-9), inibidor tecidual de metaloproteinase-1 (TIMP-1), orosomucoide e neprilisina — são mais elevados em pacientes com IC de etiologia chagásica do que naqueles com IC não chagásica. Métodos: Em um desenho transversal, 173 pacientes com IC (94 com DC e 79 com outras causas) foram recrutados consecutivamente em ambulatórios de subespecialidade de dois hospitais universitários. A média de idade foi de 55 ± 12 anos, e 49 % eram do sexo masculino. A gravidade da IC foi avaliada por ecocardiograma transtorácico, e os níveis séricos dos biomarcadores foram mensurados por ensaio ELISA em amostras de sangue colhidas no dia da avaliação. Resultados: Apesar de o grupo não-chagásico apresentar pior função ventricular pelo ecocardiograma (fração de ejeção média de 38,2 ± 15,3% versus 53,3 ± 18,0% nos chagásicos; p<0,001), encontramos níveis significativamente maiores de TIMP-1 sérico em pacientes com DC, com diferença média ajustada de 2,2 ng/ml (IC 95%: 0,1–4,5; p=0,037). Além disso, os valores de TIMP-1 correlacionaram-se positivamente com a fração de ejeção ventricular esquerda (r=0,32; p=0,002), sugerindo vínculo com o remodelamento miocárdico subclínico. Em contraste, IL-6, MMP-9, orosomucoide e neprilisina não diferiram entre os grupos. Análises exploratórias de neuroimagem indicaram ainda que padrões de MMP-9 e TIMP-1 se associaram de forma distinta a infartos silentes e sinais de microembolia, apontando diferentes perfis de lesão vascular cerebral. Discussão e Conclusão: Em pacientes com IC, o aumento de TIMP-1 em portadores de DC ocorre mesmo na presença de função ventricular relativamente preservada, reforçando seu papel como mediador de fibroplasia precoce e possível indicador de risco vascular. A dissociação entre gravidade ecocardiográfica e ativação inflamatória sugere que o TIMP-1 pode ser um marcador sensível de lesão miocárdica e cerebral subclínica, com potencial para orientar estratégias de monitoramento e intervenções terapêuticas personalizadas na doença de Chagas.

Docente Orientador: 
Palavras-chave: 
Doença de Chagas. Mediadores de inflamação. Biomarcadores. Isquemia cerebral. Cardiomiopatia.
Banca examinadora: 
Jamary Oliveira Filho (Presidente/orientador) Luciana Mattos Barros Oliveira Pedro Antônio Pereira de Jesus Bruno Solano de Freitas Souza Vinicius Viana Abreu Montanaro Paulo Novis Rocha (Suplente)
Ano de publicação: 
2025