RESUMO
Introdução: O HIV é um vírus de infecção de progressão lenta capaz de desencadear infecção latente que a longo prazo suprime a resposta imune do hospedeiro. A leishmaniose visceral é considerada um fator de risco aumentado de morbimortalidade em indivíduos infectados por HIV-1, porém, não é reconhecida como critério para AIDS. A sobreposição geográfica das infecções por HIV-1 e Leishmania spp. apresentada nos últimos anos é identificada como um desafio emergente para o combate da pandemia em países endêmicos para leishmaniose. Objetivo: Avaliar os fatores epidemiológicos, virológicos e imunológicos envolvidos em indivíduos soropositivos para HIV-1 e Leishmania infantum atendidos no Centro Estadual Especializado em Diagnóstico, Assistência e Pesquisa, Salvador, Bahia. Material e Métodos: Estudo de corte transversal, que incluiu amostras de 5.912 indivíduos com diagnóstico positivo para HIV-1 realizado entre os anos 1998 e 2015. Dados clínicos e epidemiológicos foram obtidos através da revisão de prontuários e as amostras coletadas no momento do diagnóstico para HIV-1 foram utilizadas para screening sorológico para leishmaniose através de ELISA in house com antígeno SLA e proteína recombinante HSP70 de L. infantum. O grupo de indivíduos infectados por HIV-1 com sorologia positiva para anti-SLA e anti-HSP70 de L. infantum foram avaliados quanto a característica virológicas do HIV-1 (carga viral, subtipagem e resistência aantirretrovirais) e ativação imune (quantificação de células CD4+, CD8+ e CD45+ e quantificação de citocinas e quimiocinas inflamatórias). Resultados: O nosso estudo identificou um intervalo de prevalência de indivíduos HIV-1 com sorologia para L. infantum de 3,57% (duplo-positivo para SLA e HSP70) até 20,1% (positivo para SLA). Encontramos uma distribuição dos subtipos de HIV-1 com prevalência de subtipo B (68,0%), seguido de C (13,6%), F1 (6,8%), unidades recombinantes de BF (6,8%) e D (3,4%). Destaca-se que 31% apresentaram resistência para pelo menos um medicamento antirretroviral. Encontramos na avaliação de marcadores de imunoativação um aumento significativo das quimiocinas CXCL9/MIG (p=0,0080) e CXCL10/IP-10 (p=0,0006) e uma tendência de aumento de CCL2/MCP-1 (p=0,0588) nos indivíduos com sorologia duplo-positiva para L. infantum. Conclusões: Este trabalho demonstrou uma alta prevalência de indivíduos infectadas com HIV-1 que apresentam sorologia positiva para L. infantum, o que pode indicar um número significativo de casos de coinfectados no estado da Bahia. Não houve diferença na distribuição viral e na presença de resistência à antirretrovirais em relação aos indivíduos com sorologia positiva para L. infantum em comparação com os monoinfectados por HIV-1. No entanto, os indivíduos com sorologia positiva para L. infantum são mais velhos, apresentaram níveis significativamente mais baixos de células T CD4+, e uma tendência de maior nível de carga viral do HIV-1. Ademais, apresentaram concentrações mais altas das quimiocinas inflamatórias CXCL9/MIG e CXCL10/IP-10, sugerindo uma maior imunoativação deste grupo quando comparado aos indivíduos monoinfectados por HIV-1.