AVALIAÇÃO LONGITUDINAL DA AUDIÇÃO EM CRIANÇAS COM EXPOSIÇÃO CONGÊNITA AO ZIKA VÍRUS: UMA SÉRIE DE CASOS - Dissertação de Mestrado 2021

Português, Brasil
Introdução: A epidemia da infecção pelo Zika vírus nas Américas revelou o potencial neuropático viral de grande impacto principalmente na exposição congênita, com repercussões clínicas variáveis, neurológicas motoras e cognitivas, oculares e auditivas. Objetivo: Analisar longitudinalmente a função auditiva de crianças com infecção congênita pelo Zika vírus (ZIKV) nos primeiros dois anos de vida. Métodos: Recém-nascidos foram recrutados de maternidades de referência em Salvador, entre julho de 2015 e janeiro de 2016, com base na suspeição clínica de ZIKV congênita: história materna de infecção pelo ZIKV durante a gestação, microcefalia e alterações em exames de imagem pré ou pós-natal sugestivas de infecção pelo ZIKV. Sorologia para Zika e outras infecções congênitas foram obtidas para 9 e 4 crianças, respectivamente. Foram excluídas crianças com outras infecções congênitas confirmadas e submetidas a uma única avaliação auditiva. Dez bebês foram submetidos, de forma prospectiva, a avaliação otorrinolaringológica, exames de otoemissões acústicas evocadas (OEA), potenciais auditivos de tronco encefálico (PEATE), timpanometria e audiometria comportamental, acompanhados por tempo médio de 13,9 meses. Resultados: De uma amostra de 15 recém-nascidos, dez realizaram o acompanhamento audiológico durante tempo médio de 13,9 meses. A amostra foi composta principalmente por filhos de mães jovens, onde nove das 10 mães apresentaram sintomas compatíveis com arbovirose na
gestação, principalmente no primeiro trimestre gestacional (7/9). Todos os bebês apresentavam exame de imagem pré ou pós-natal revelando alterações neurológicas compatíveis com síndrome congênita pelo ZIKV. As sorologias IgG foram reagentes em nove casos. Cinco apresentavam resultado de IgM positivo para ZIKV realizada logo ao nascimento. Sorologias IgG positivas para CMV e rubéola foram obtidas em duas crianças, porém as sorologias maternas não foram realizadas ou encontravam-se incompletas. Foram identificados dois casos de perda auditiva sensorioneural, ambas de caráter progressivo e uma de início tardio, cinco casos de perda auditiva condutiva e um caso de perda auditiva mista. Em cinco bebês as alterações auditivas foram identificadas durante o acompanhamento, após uma avaliação prévia normal. Os exames audiológicos permitiram identificar comprometimento da audição a nível da orelha média, compatível com otite média serosa, a nível coclear e retrococlear. Em um caso, recém nascido sem microcefalia e a termo, suspeitou-se de neuropatia auditiva pela ausência de integridade neurofisiológica registrada no PEATE na presença de OEA detectáveis. Todos foram avaliados com audiometria comportamental e apresentavam atraso no desenvolvimento da função auditiva. Apenas uma criança manteve exames sem alterações durante todo o seguimento. Conclusões: Esta série de casos revela o amplo espectro de complicações auditivas identificadas durante seguimento por 13,9 meses, com acometimento de ouvido médio, de localização retrococlear. Muitos desses achados não são detectados no exame de triagem auditiva neonatal, como a neuropatia auditiva. Desta forma, os casos descritos apontam para a necessidade de acompanhamento dessas crianças a longo prazo, a fim de assegurar uma terapêutica precoce.
Palavras-chave: 
1. Arbovírus; 2. Deficiência auditiva; 3. Síndrome da Zika congênita.
Banca examinadora: 
Viviane Sampaio Boaventura de Oliveira (Presidente/orientadora) David Greco Varela Miguel Angelo Hyppolito
Ano de publicação: 
2021