Co-infecção HTLV-1 (Human T Lympohtropic vírus type) em pacientes com hepatite crônica pelo vírus da hepatite C (VHC) - Dissertação de Mestrado 2011
O presente estudo trata da coinfecção pelo HTLV-1 com o vírus C da hepatite em algumas áreas geográficas devido aos mecanismos superponíveis de transmissão. Este vírus desenvolve uma desordem imunológica significante no organismo infectado, sendo a coinfecção descrita como um provável fator de predisposição a uma evolução mais grave da hepatite pelo vírus C, como o hepatocarcinoma (CHC) e a uma pior resposta ao tratamento antiviral. Assim, visando estudar esta associação, estabeleceu-se como objetivo avaliar a influência da infecção pelo HTLV-1 no curso da infecção pelo vírus C da hepatite, por meio da avaliação de parâmetros clínicos, laboratoriais, histológicos e do perfil imunológico. Para tanto, adotaram-se os seguintes procedimentos metodológicos: De março de 2009 a dezembro de 2010, foram selecionados 23 pacientes coinfectados pelo VHC/HTLV-1. Paralelamente, 21 pacientes monoinfectados pelo VHC foram selecionados como controle obedecendo ao pareamento por sexo e idade (+/- 5 anos). Aplicou-se um questionário clínico-epidemiológico contendo dados para a avaliação clínica e laboratorial (perfil bioquímico, hepático, autoanticorpos e dosagens de citocinas). A histopatologia foi revista em centro de referência. Avaliou-se o perfil imunológico com dosagens de citocinas nos dois grupos. Os resultados obtidos revelam que a avaliação antropométrica dos pacientes demonstrou que os dois grupos eram semelhantes. A idade média variou de 48,1±6,0 no grupo co-infectado (N=23) versus 49,3±9,7 no grupo mono infectado (N=21). O grupo coinfectado foi composto por 12 pacientes do sexo masculino e 11 do sexo feminino; e o grupo monoinfectado, por 10 pacientes do sexo masculino e 11 do sexo feminino. Observou-se uma maior tendência a uso de drogas injetáveis e inaladas no grupo coinfectado, em comparação com a maior frequência de pacientes que usaram seringa de vidro para complexo vitamínicos, entre o grupo mono infectado pelo vírus C da hepatite, porém estes dados não apresentaram significância estatística. A avaliação laboratorial mostra transaminases com médias mais elevadas no grupo coinfectado, porém sem significância estatística; e diferença na avaliação das proteínas totais, por conta das globulinas, com níveis mais elevados no grupo coinfectado (p=0,01). O genótipo predominante foi o do tipo 1 nos dois grupos e a carga viral apresentou maior média no grupo coinfectado (avaliada em 17 pacientes coinfectados e 19 pacientes monoinfectado). A avaliação histológica demonstrou semelhança na atividade necroinflamatória e fibrose entre os grupos. Encontrou-se diferença na avaliação da esteatose no tecido hepático, sendo mais frequente no grupo coinfectado (p=0,01). A avaliação dos marcadores de autoimunidade foi negativa nos dois grupos. Não houve diferenças entre sinais e sintomas de doença hepática nos dois grupos. A queixa mais frequente em ambos foi fadiga e artralgia. Aspectos imunológicos avaliados numa primeira fase do estudo em 20 pacientes demonstraram que houve uma maior produção de TNF alpha entre o grupo coinfectado em comparação com o grupo monoinfectado. A avaliação do perfil de citocinas TH1 e TH2 nos dois grupos não demonstrou diferença estatística. Foi realizada avaliação de IL-2 e INF gamma numa segunda etapa nos 44 pacientes do estudo. Para maior solidez da análise, foram comparados os resultados obtidos com 20 pacientes sadios (controles) e 20 monoinfectado pelo HTLV-1, aleatoriamente selecionados no ambulatório de HTLV da Universidade Federal da Bahia. Diferenças estatísticas foram encontradas quando se avaliou o INF gamma nos quatro grupos (p<0,05) e o grupo coinfectado pelo HCV-HTLV-1 e monoinfectado pelo VHC, com maior produção sérica desta citocina pelo grupo coinfectado (p<0,05). A avaliação da IL-2 mostrou que não houve diferença na avaliação entre os quatro grupos (controle, monoinfectado pelo HCV, coinfectado HCV/HTLV-1 e monoinfectado pelo HTLV-1) (p>0,05). Diferença foi observada quando da comparação entre o grupo coinfectado HCV/HTLV-1 e o grupo monoinfectado pelo HTLV-1 (p<0,05). A análise dos dados e resultados levada a efeito levou às seguintes conclusões: Os mecanismos que envolvem os aspectos da coinfecção HCV/HTLV-1 ainda são obscuros. Este estudo sugere que fatores imunológicos estão implicados no curso desta coinfecção, mas o impacto clínico destes não está ainda definido. Fator de proteção poderia estar relacionado com a coinfecção HCV-HTLV-1, modulando a resposta imunológica determinada pelo HTLV-1 refletindo na resposta clínica e histológica determinada pela infecção pelo VHC em pacientes coinfectados. Há necessidade de novos estudos sobre o tema, principalmente no Brasil.