A Influência do Diabetes Mellitus nas Manifestações Clínicas, na Resposta Imune e na Resposta ao Tratamento de Pacientes com Leishmaniose Cutânea Causada pela Leishmania braziliensis - Tese de Doutorado 2021
Introdução: O diabetes mellitus (DM) é uma doença crônica caracterizada pela elevação da glicose sanguínea (hiperglicemia). Atualmente, em parte, por consequência de maus hábitos alimentares e estilo de vida sedentário, cerca de 90-95% dos casos de diabetes são do tipo 2, o qual se desenvolve a partir de um quadro inicial de resistência periférica à insulina. O DM aumenta o risco de infecções bacterianas extracelulares e das infecções por fungos e modifica a apresentação clínica e a resposta ao tratamento dessas infecções. A Leishmaniose Cutânea (LC) se caracteriza por úlceras bem delimitadas com bordas infiltradas elevadas e com fundo granuloso. A LC é uma doença que compromete predominantemente adultos, jovens do sexo masculino, mas o número de crianças e idosos com a doença tem aumentado nos últimos anos. Todavia, existe uma escassez de trabalhos sobre a LC em diabéticos. Objetivo: Avaliar a influência do DM nas manifestações clínicas, na resposta imune e na resposta ao tratamento de pacientes com LC causada pela Leishmania braziliensis. Material e Métodos: Participaram do estudo 36 pacientes DM com LC e 36 pacientes com LC sem DM, com idade entre 18 a 60 anos com diagnóstico de LC que procuraram o centro de referência de Corte de Pedra no período de janeiro de 2017 a junho de 2020. As células mononucleares do sangue periférico foram estimuladas com antígeno solúvel de leishmania para dosagem de citocinas através da técnica imunoenzimática (ELISA). Foi realizada também biópsia da lesão para o estudo histopatológico e imuno-histoquímico. O diagnóstico da LC foi feito pela identificação do DNA de L. braziliensis e do DM por hemoglobina glicada ≥6,5%. Todos os pacientes foram tratados com Glucantime® (Sanofi-Aventis) na dose 20mg/kg/dia. A cura foi definida pela completa cicatrização da lesão na ausência de bordas elevadas. Resultados: Não houve diferença entre os dois grupos com relação à duração da doença, localização e o tamanho da lesão, e a cura foi observada em 47% dos pacientes diabéticos com LC e em 56% dos pacientes com LC sem diabetes (P>0.05). Não houve diferença no número de amastigotas, nem na frequência de células expressando CD20+(linfócito B) e CD68+(macrófagos). Entretanto, houve uma diminuição na frequência de células de CD8+ em pacientes com LC e DM. Do ponto de vista clínico, uma diferença marcante entre os grupos foi a presença de lesões atípicas, planas e sem bordas bem delimitadas em 13 pacientes (36%). Enquanto a cura foi documentada em 87% dos diábeticos com lesões típicas, essa foi observada em 31% (P<0.01) dos com lesões atípicas. A produção de citocinas IFN-γ, TNF, IL-1 β foi mais elevada nos pacientes com lesões atípicas do que nos pacientes com lesões típicas (P<0.05). Conclusões: Não houve evidência que a glicemia tenha influenciado a apresentação e a resposta ao tratamento da LC. Todavia, um subgrupo dos pacientes com DM e LC apresentou lesões atípicas associadas com produção mais elevada de IFN-γ, TNF e IL-1β e falha terapêutica, indicando que a resposta inflamatória exagerada e um subgrupo de pacientes com DM modificaram as manifestações clínicas e a resposta ao tratamento.