Perfil Transcriptômico De Lesões Provenientes De Pacientes Com Diferentes Formas Clínicas Da Leishmaniose Tegumentar - Tese de Doutorado 2018
Introdução: A Leishmaniose Tegumentar (LT) está entre as seis doenças negligenciadas prioritárias conforme a Organização Mundial de Saúde, acometendo cerca de 1 a 1,5 milhões de casos de indivíduos em todo o mundo, principalmente aqueles residentes em áreas tropicais e subtropicais do planeta. No Brasil, a LT apresenta ampla distribuição com registro de casos em todas as regiões, principalmente nas regiões Norte e Nordeste do país. A LT na região Sudeste da Bahia registra o maior número de casos, incluindo a região Vale de Jiquiriçá. Muitos estudos têm buscado esclarecer os mecanismos que controlam o desenvolvimento das lesões e a resposta imune envolvida. Técnicas de alto rendimento têm revelado alvos importantes na progressão da doença, entretanto, alguns mecanismos imunológicos ainda não foram totalmente elucidados. É importante identificar os principais fatores que impulsionam o sucesso do estabelecimento da infecção por Leishmania influenciando diretamente no desenvolvimento de diferentes formas clínicas. Dessa forma, durante a infecção, o hospedeiro pode induzir vias de resposta imune que contribuem para a resolução ou favorecimento da doença. Mais recentemente, o papel da via do Liver X Receptor (LXR) tem sido estudado em diferentes doenças infecciosas, incluindo a Leishmaniose. Objetivo: Nossa hipótese é que diferenças no perfil de expressão gênica em lesões de LT humana informam sobe os mecanismos imunopatológicos da LT. O objetivo geral foi o de comparar o perfil de expressão genica de moléculas envolvidas em vias metabólicas críticas das formas cutânea localizada (LCL), disseminada (LD) e mucosa (LM). Materiais e métodos: Trata-se de um estudo de corte transversal para caracterizar os aspectos imunopatológicos das lesões de pacientes com LCL (n=15), LD (n=7) e LM (n=8) usando o nCounter (nanostring) e RNA-seq, abordagens modernas e de alto desempenho para caracterizar o transcriptoma das lesões. Para avaliar a expressão do LXR nas lesões, foi feita uma análise por microscopia óptica das amostras dos tecidos de LM, LD e mucosa sadia marcados por imuno-histoquimica (IHQ). Resultados: Entre os genes avaliados, 25 estavam regulados positivamente em relação à amostra de doadores normais tanto na LCL quanto na LM, como os do ICAM-1, Caspase 1, CXCL-10 e Granzimas A e B. Entretanto, cerca de 100 genes foram identificados isoladamente na LCL quando comparados com pele de doadores saudáveis ou na LM quando comprados com mucosa nasal saudável. A análise das vias canônicas mostrou regulação positiva da via do TREM-1 e NF-kB. Por outro lado, há uma modulação negativa das vias relacionadas à ativação do LXR/RXR. A análise por RNA-seq de amostras de 7 pacientes com LD e 4 doadores saudáveis mostrou 1.765 genes sobre expressos e 384 reprimidos na comparação doador normal. Na IHQ, as amostras de LCL e LM apresentaram redução ou ausência de células positivas para LXR enquanto na LD houve marcação moderada de LXR. Conclusão: Dessa forma podemos concluir que na LCL e na LM há ativação de varias vias pró-inflamatórias enquando na LD há uma modulação negativa na resposta imune humoral e celular, conforme verificado tanto a nível transcripcional quando de expressão da proteína LXR. Por outro lado, genes capazes de modular negativamente a resposta imune e contribuir para o processo de cicatrização, como o LTF e o EDNRB, estão regulados na LC e na LD, sugerindo mecanismos comuns de controle da inflamação