RECORRÊNCIA DE ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL ISQUÊMICO E DESFECHO FUNCIONAL EM PACIENTES COM RISCO MODERADO A ALTO PARA SÍNDROME DE APNEIA DO SONO - Dissertação de Mestrado 2021

Português, Brasil

Introdução: O Acidente Vascular Cerebral (AVC) é a segunda causa de morte e a principal causa de incapacidade no mundo e cerca de 13,5–38,9% deles ocorrem durante o sono. A Síndrome de Apneia Obstrutiva do Sono (SAOS) é altamente prevalente e um fator de risco independente para o AVC, associada à recorrência da doença e mortalidade, mas sua relevância no desfecho funcional após AVC é desconhecida. Objetivo: Determinar se escores de risco para SAOS estão associados à recorrência de AVC e incapacidade funcional. Casuística, Material e Métodos: Coorte observacional prospectiva, na qual pacientes com AVC isquêmico agudo foram recrutados a partir de um hospital público em Salvador. Dados sociodemográficos, fatores de risco cerebrovasculares e as escalas de risco para Apneia do Sono foram coletados no momento do recrutamento. Usamos o questionário STOP-Bang e o escore SOS para quantificar o risco de SAOS. STOP-Bang foi categorizado em baixo  (0-2), moderado risco (3-4) e alto risco (5-8); enquanto o escore SOS em baixo risco (0-10), moderado risco (9-19) e alto risco (≥20). Após 90 dias, coletamos dados de recorrência de AVC e o desfecho funcional foi avaliado através da escala modificada de Rankin (mRS). Desfecho funcional ruim foi definido como mRS = 3-6. Resultados: Entre outubro de 2018 e novembro de 2019 foram cadastrados 390 pacientes, com média de idade de 64 +/- 13 anos, sendo 190 (49,6%) deles do sexo feminino. Obtivemos dados de seguimento de apenas 383 destes. Após 90 dias, 216 (56,4%) pacientes tiveram um desfecho ruim. Neste grupo, os pacientes foram mais velhos [66 (±13) vs. 60 (±12) anos; p<0,001], predominantemente do sexo feminino [119 (55,1%) vs. 71 (42,5%); p=0,018] e tiveram maior escore na escala do National Institute of Health Stroke (NIHSS) na admissão [14 (intervalo interquatil – IQR 9-19) vs. 5 (IQR 3-8); p<0,001]. A mediana do escore STOP-Bang foi significativamente maior em pacientes com desfecho ruim [4 (IQR 3-5) vs. 3 (IQR 2-5); p=0.001]. Tal diferença não foi encontrada para o risco de apneia do sono baseado no escore SOS [11 (IQR 7-16) vs. 12 (IQR 7-17); p=0,632]. STOP-Bang permaneceu independentemente associado a um desfecho ruim, mesmo após ajuste para variáveis confundidoras (OR 1,68, 95% CI 1,05-2,72, p=0,032). Quando o STOP-Bang foi estratificado pelo risco de SAOS, pacientes com baixo, moderado e alto risco tiveram desfecho ruim em 90 dias em 37,7%, 58,9% e 63,2% dos casos, respectivamente (p=0,003). Em contraste, o escore SOS não mostrou associação com desfecho funcional, mesmo na análise não ajustada (OR 1,06, 95% IC 0,78-1,43, p=0,717). Oitenta e oito pacientes (23%) tiveram AVC ao despertar, sem diferença estatística entre os grupos [36 (21,6%) vs. 52 (24%); p=0,626]. Não encontramos associação entre os dois escores de apneia do sono e AVC ao despertar, mesmo na análise univariada [(SOS OR 1,1; 95% IC 0,76-1,52; p=0,68); (STOP-Bang OR 1,1; 95% 0,78-1,5; p=0,59)]. Tivemos uma pequena taxa de recorrência de AVC (1,6%), portanto, nosso estudo não teve poder para identificar preditores de recorrência da doença. Conclusão: Um simples escore de risco de apneia do sono (STOP-Bang) é independentemente associado à incapacidade funcional em pacientes com AVC isquêmico, mesmo após ajuste para variáveis confundidoras. Um tempo maior de observação é necessário para avaliar tal associação com AVC recorrente.

 

Docente Orientador: 
Palavras-chave: 
1. Acidente Vascular Cerebral isquêmico. 2. Apneia do Sono. 3. AVC. 4. OSA
Banca examinadora: 
Jamary Oliveira Filho (Presidente/orientador) Francisco Hora de Oliveira Fontes Pedro Antônio Pereira de Jesus Marcus Miranda Lessa (Suplente)
Ano de publicação: 
2021