Saúde digital para monitoramento da efetividade das vacinas contra COVID-19 no Brasil (Digital health for monitoring the effectiveness of vaccines against COVID-19 in Brazil - Tese de Doutorado 2022
Introdução: No Brasil, quatro vacinas contra COVID-19 têm sido administradas. A efetividade das vacinas e os fatores que a modificam são de extrema importância para políticas de saúde pública.
Objetivos: Avaliar a efetividade das vacinas contra Covid-19 utilizadas no Brasil, analisando os desfechos de infecção sintomática, hospitalização; admissão em Unidade de Terapia Intensiva e Óbito: (i) analisar a influência da idade na proteção oferecida pelas vacinas contra COVID-19; (ii) Investigar a duração da proteção contra COVID-19 após a vacinação; (iii) avaliar o impacto da infecção prévia por SARS-CoV-2 na proteção oferecida pelas vacinas contra COVID-19; (iv) analisar o efeito das doses de reforço na proteção conferida pelas vacinas.
Métodos: Os bancos de dados nacionais referentes a vigilância de síndrome gripal, de síndrome respiratória aguda grave e de administração de vacinas contra COVID-19 foram utilizados para avaliar a efetividade vacinal entre janeiro de 2021 e março de 2022. Dois desenhos de estudo foram utilizados: coorte retrospectiva e teste negativo caso controle. Regressão binomial negativa, regressão de Poisson e regressão logística foram utilizadas.
Resultados: Apresentaremos os distintos aspectos que investigamos através da determinação da efetividade vacinal:
(i). Efeito da idade na proteção conferida pela vacina. Este aspecto foi avaliado no artigo 1-3 e 6-7. A proteção contra infecção sintomática e contra desfechos graves decaiu com a idade. Os indivíduos ≥ 80 anos apresentaram EV contra ambos os desfechos, em média, 20% inferiores às estimativas do grupo etário mais novo. No caso de indivíduos imunizados com a ChAdOx1, na faixa etária de 18-64 anos a EV contra evento grave foi de 89,9% (95% Intervalo de Confiança (IC) 88,9 – 90,8) enquanto na faixa etária de ≥80 anos foi de 66,1% (95% IC 57,9-72,7). No caso da CoronaVac, a VE no grupo de 18-59 anos foi de 91,4% (95% IC 90,3–92,4) e para ≥80 foi de 68,7% (95% IC 65,9–71,2). Essas estimativas referem-se ao período de maior efetividade vacinal (entre 14 e 30 dias após a segunda dose) e durante a circulação das variantes Gama e Delta. Padrões similares foram encontrados durante a avaliação no período de dominância da variante Ômicron.
(ii). Padrão de decaimento (waning) da efetividade vacina. Este aspecto foi avaliado nos artigos 2-3 e 6-7. A EV contra infecção sintomática e desfechos graves decaiu com o tempo após a última dose, durante o período de dominância das variantes gama e delta e com mais intensidade durante a variante Ômicron. No período Gama/Delta a razão de taxa para eventos graves em imunizados com ChAdOx1 foi de 4,71 (95% IC 3,83-5,78) no período de 18 a 19 semanas após a segunda dose em relação ao período de 2 a 3 semanas. Para imunizados com CoronaVac, a EV contra desfechos graves no período de 14-30 dias após a segunda dose foi de 82,1% (95% 81,4–82,8) e após seis meses de 72,6% (95% 71,0–74,2). Durante o período de dominância da variante Ômicron, a EV contra desfechos graves caiu para 64,5 (95% IC 62,6 – 66,3) para a CoronaVac e 77,1% (95% IC 72,9 – 80,6) para a ChAdOx1
(iii). Efeito da imunização após infecção por SARS-COV-2. Avaliado nos artigos 4-5. Indivíduos com infecção prévia se beneficiaram do esquema de duas doses da CoronaVac, ChAdOx1 ou BNT162b2, apresentando EV contra desfecho grave acima de 80% quando comparados com indivíduos com infecção prévia, porém não vacinados. A proteção contra infecção sintomática manteve níveis estáveis e próximos de 50% durante a predominância das variantes Gama e Delta, porém durante a predominância da variante Ômicron a proteção contra esse desfecho foi transitória.
(iv). Efeito da dose de reforço com uma vacina de RNA mensageiro. Avaliado nos artigos 6-7. A dose adicional de vacina de RNA mensageiro aumentou a efetividade vacinal para 89,4% (95% IC 87,8 – 90,7) no caso das pessoas previamente imunizadas com CoronaVac e 93,5% (95% IC 93,0 – 94,0) no caso da ChAdOx1.
Conclusão: Todas as vacinas contra COVID-19 avaliadas neste estudo, são efetivas contra os desfechos graves da doença, embora haja diferenças entre elas. Em todas as vacinas, esta proteção decai com tempo após a vacinação e é progressivamente mais acentuada com o avançar da idade. A cada nova variante, observa-se redução dos níveis de proteção em relação à variante predominante anteriormente. A proteção contra as formas graves da COVID-19 sempre foi superior à proteção conferida contra a infecção pelo SARS-COV-2. No período de estudo, a proteção foi reestabelecida com a administração de dose adicional de vacina de vacina de RNA mensageiro.